top of page
O%20Salto%20-%20Capa_edited.jpg

O Salto

Meus nervos estavam à flor da pele. O avião, voando a onze mil pés de altura, seguia em linha reta, aguardando a passagem pelo ponto ideal para a realização do salto. Seria minha primeira vez sem o instrutor às minhas costas. Uma espécie de formatura no paraquedismo. Faríamos uma formação simples. Os dois professores e os quatro alunos se dariam as mãos em círculo, posando para o fotógrafo, que registraria o momento. Este era o primeiro da fila, seguido dos meus colegas, eu e, por último, os mais experientes.

Um bip soou, a luz vermelha se acendeu junto à porta, todos gritaram euforicamente, batendo as mãos e os pés pela fuselagem.

— Três, dois, um… — contamos.

Lá se foi o fotógrafo, puxando a fila. Em cinco segundos, todos voávamos, felizes e apreensivos ao mesmo tempo. Cada um tirou uma foto mostrando os polegares, antes de ir para a formação. Na minha vez, abri a boca e arregalei os olhos. Queria uma cena engraçada. Já com o círculo de colegas pronto, víamos os repetidos flashes sendo disparados alguns metros abaixo de nós. Um instrutor deu o sinal e nós nos afastamos, com um forte impulso.

O cameraman abriu seu pára-quedas. Depois foi a vez dos outros alunos, e então puxei minha corda… uma vez… duas… não funcionou.

Os instrutores, cientes de meu desespero, voaram para perto de mim e tentaram, sem sucesso, fazer meu equipamento se desenrolar. Um deles bateu em minha mochila com tanta força que se distanciou demais. Abriu seu para-quedas e se foi, pois sabia que não teria tempo de fazer nova tentativa. O outro puxou um pedaço de tecido para fora de minha bolsa, segurou-o firmemente e me avisou que abriria o próprio equipamento, para desenrolar o meu à força. Assim fez, mas minha velocidade não diminuía. Vendo o chão, que se aproximava rapidamente, gritava de medo, mas não conseguia ouvir minha voz. Fechei os olhos e esperei o impacto. Bati o rosto no chão, mas não senti a dor que esperava. Ao abri-los, percebi-me esparramado no chão com a cara no carpete do meu quarto.

— Você está bem? — perguntou minha esposa, ainda sonolenta.

Só acenei com a cabeça.

De manhã, telefonei para o Clube de Paraquedismo Amador e pedi para adiar meu salto. Perguntaram o motivo.

— Sofri uma queda hoje — respondi, sem entrar em detalhes.

bottom of page